- Beleza sempre foi um ponto um tanto quanto desconfortável para mim, na infância e na adolescência. Nunca me achei bonita, de verdade. Só fui me achar atraente aos 16 anos, quando me reconheci nos olhos do meu primeiro namorado de verdade, Lula, rapaz encantador de 17 anos por quem meu coração se apaixonou e minha alma se conectou de forma intensa.
Ele me achava linda, morena dos olhos negros – logo eu que via as meninas loiras de olhos azuis como os seres mais perfeitos da natureza! Foram 3 anos de namoro à distância, eu em Minas e ele em Santo André, com muita paixão, sofrimento e doloridas e dilacerantes saudades que conseguíamos amenizar com os poucos encontros e as dezenas, centenas de longas e apaixonadas cartas. Como esperávamos ansiosamente o carteiro chegar! Mas um dia, o namoro esfriou, a distância e as dificuldades para os encontros nos levaram a terminar o relacionamento e eu fiquei por muitos e muitos anos sofrendo pela perda do meu grande amor… como o namoro havia terminado, decidi prestar Medicina ao invés de Ciência da Computação em SP e passei logo no primeiro vestibular na minha cidade, em Minas Gerais. Não me conformava com o término do namoro e tentava entender o motivo, o porquê da separação. E chegava à conclusão de que ele, rapaz lindo, de arrancar suspiros em qualquer garota da época, devia ter percebido que outras meninas eram bem mais bonitas e interessantes do que eu.
Os anos se passaram, muitos, muitos estudos na faculdade e poucas baladas – eu era a certinha da turma, a estudiosa, e não curtia tanto churrascos e as festas. No final do segundo e começo do terceiro ano da faculdade eu estava muito triste, deprimida mesmo, com muitas espinhas no rosto. Resolvi me matricular num curso de Homeopatia. Encantada com os princípios dessa antiga filosofia da Medicina que havia reaparecido, resolvi consultar com o professor homeopata para me tratar “holisticamente”, tratar o corpo e também a alma. O tratamento surtiu efeito imediatamente, tudo que meu professor disse que ocorreria realmente ocorreu. Minhas espinhas pioraram a princípio, como se o corpo as estivesse expurgando e meu estado emocional melhorou sensivelmente. Eu estava novamente feliz, alegre e até voltei a participar das festas da faculdade. Mas meu rosto a cada dia piorava, espinhas enormes explodiam no meu rosto e todos me perguntavam, assustados, por que eu não ia ao médico! E eu respondia: “eu já fui e é assim mesmo o tratamento, piora no começo e depois melhora!” Mas as pessoas não se conformavam e diziam: “procure um dermatologista para cuidar da sua pele! “, ao que eu retrucava: “eu estou bem, isto é o que importa.” Um dia, minha irmã que morava fora do país veio nos visitar. Quando me viu ficou assustada e me deu um chacoalhão, uma bronca daquelas: “Você está acabando com a sua pele!! Vai ficar cheia de cicatrizes!! Você está muito feia, as pessoas não conseguem nem te olhar! Por favor, pare com a homeopatia e volte a fazer o tratamento com o dermatologista!” Segui o conselho da minha irmã e logo minha pele melhorou, as espinhas desapareceram e no lugar delas, ficaram enormes cicatrizes. Cicatrizes que marcaram a minha dor, a dor da perda do amor. Fiquei para sempre com as marcas na alma e no corpo, “recuerdos” daquele amor partido.
O tempo é um senhor e deve ser respeitado. Demorou para eu voltasse a namorar, ter relacionamentos e curtir a vida. Mas aconteceu. Me formei, fui fazer residência em Clínica Médica e desejava me especializar em Nefrologia, Terapia Intensiva ou Endocrinologia. Gostava muito de estudar coisas difíceis, os desafios me fascinavam. Quanto mais complexo era o caso clínico, mais eu queria estudar. Até que um dia, um rapaz de 18 anos chamado Luís Fernando e que havia sofrido um acidente de moto entrou na UTI, onde eu dava plantões na residência. Me apeguei muito a ele e a sua família. Luís Fernando nunca mais voltou ao normal, ficou com graves sequelas neurológicas e aquela história toda mexeu muito comigo, pois nos momentos em que alguns chefes cogitavam desistir do caso achando que ele não sobreviveria e eu não aceitava, brigava com todos para que não desistíssemos de lutar pela vida do rapaz. Um garoto lindo, como o meu Lula, que também se chama Luís Fernando. Essa história me fez repensar a minha trajetória, o futuro da minha carreira. Eu já me questionava a especialização em áreas em que o sofrimento era inevitável e percebi que não tinha a frieza e o distanciamento emocional necessários. Admirava muito os chefes e colegas que conseguiam não se emocionar, nem se identificar com o sofrimento dos pacientes e das famílias, mas definitivamente não era pra mim aquela vida de noites sem dormir sob constante estresse e sofrimento emocional.
No final da residência, em 1997, já para prestar Endocrinologia, fui a um congresso de Medicina Estética no Rio de Janeiro e conheci os novos tratamentos estéticos: laser para cicatrizes, Roacutan para acne, Botox e preenchimentos para rugas e Propécia para calvície. Fiquei encantada pela Medicina Integrativa e a Cosmiatria (Dermatologia Estética), pois tratam a saúde, previnem doenças e promovem o real bem-estar das pessoas ao melhorar sua auto-estima e devolver a beleza perdida com o envelhecimento. Decidi que iria estudar esta nova Medicina Preventiva, Dermato e Estética e que iria fazer parte desta nova medicina; que iria focar em saúde e prevenção e promover a Beleza, uma senhora ainda ”
Fui morar em São Paulo disposta a estudar e lançar mão de toda minha garra e coragem em busca da Beleza e da Medicina da Beleza, para que eu pudesse descobrir onde ela se ocultava dentro de mim. E foi um longo e maravilhoso processo os primeiros anos em SP, sozinha, me redescobrindo como ser humano, médica e mulher. Fiz inúmeros cursos, workshops, pós-graduações, especialização e, em paralelo, me dediquei a estudar os meus hobbies preferidos, astrologia e tarot. Nos primeiros 4 anos em SP estudei muito, trabalhei muito, e conheci pessoas maravilhosas que acreditaram em mim e me ajudaram demais no início da minha carreira. Logo montei meu consultório, onde fazia com grande alegria e paixão aquilo que todas as mulheres e muitos homens desejam: rejuvenescimento facial. Comecei a dar aulas e descobri meu talento e minha grande vocação: ensinar. Tive alguns relacionamentos, mas nunca mais senti aquele amor verdadeiro da adolescência. Decidi que iria estudar Psicologia, fazer terapia e me formar em Astrologia! Não, eu nunca quis “virar astróloga”, eu só queria usar a Astrologia para aprender a me conhecer, entender meus padrões de comportamento, descobrir meus reais talentos e focar neles com todo meu coração e minha coragem! Descobri, pela Astrologia e Psicologia, a mulher que sou hoje. Conheci grandes e verdadeiro amigos na Astrologia, Dermatologia e Cirurgia Plástica e, 10 anos depois de chegar em SP, posso dizer que me tornei uma mulher bonita, realmente bonita. Não apenas por conta dos inúmeros lasers que fiz em minha pele, botox e peelings. Eu me tornava cada dia mais e mais bonita porque, penetrando na minha alma, conhecia a minha força interior e tinha certeza absoluta de que estava me realizando profissionalmente dentro da minha vocação, trazer Beleza às pessoas, ensinar Beleza aos colegas médicos e, principalmente, fazer uma conexão entre Beleza e autoconhecimento.
Em 2006-2007, mais ou menos 10 anos depois daquele congresso no Rio, eu me sentia bonita, poderosa e realizada pessoalmente e profissionalmente. Mas o destino resolveu dar uma grande reviravolta na minha vida. Terminei um relacionamento difícil, mas esta foi apenas a primeira e menor das perdas. Perdi, após longos 4 meses de doença, meu pai, grande amigo e grande amor da minha vida. Logo na sequência, perdi minha cachorrinha e companheira, Sissi, por quem era apaixonada. E, finalmente, 1 ano depois da morte do meu pai, minha mãe, grande mulher, modelo que escolhi para minha vida, também se foi. Foram os 2 piores anos da minha vida. Perdi tudo que era realmente mais importante na minha vida. Claro, ficaram meus irmãos e tios e nossa união só aumentou cada vez mais, mas o nosso porto seguro, pai e mãe, não estavam mais aqui. Perdi, praticamente ao mesmo tempo, os grandes amores da minha vida.
E do que adianta sucesso financeiro, profissional, beleza, se não temos o mais importante? Família completa, amor… foram longos meses de depressão até descobrir que não, eu não havia perdido nada. Havia sido apenas uma separação. Pois o que é verdadeiro não morre, não morre jamais! E quando eu me levantei e consegui voltar a ser feliz pelo que eu realmente era e não pelo que eu tinha, a estrela também voltou a brilhar.
E feliz eu estava em 2008 quando tive uma surpresa, um e-mail chegado de madrugada, meu maior susto e maior presente dos últimos tempos… Um e-mail do Lula, meu grande amor da adolescência, 21 anos depois… Nada me tira da cabeça que havia um dedo da minha mãe ali, mexendo os pauzinhos com Deus!
Hoje, 9 anos depois desse e-mail, tenho minha família, eu, Lula e Fernando, meu lindo filhinho de 7 anos e sou muito, muito feliz. Percebo que depois de tanto sofrimento, fui presenteada por Deus com o verdadeiro amor, aquele que valoriza o SER e não o TER.… aquele amor não ligado às aparências, mas ligado aos verdadeiros valores … Problemas sempre existem e sempre irão existir. O que importa é como lidamos com eles e como os enxergamos, nosso ponto de vista
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E entendo que essa história toda aconteceu por causa de uma busca, uma busca incansável pela Beleza. A Beleza de ter me transformado em quem sempre fui e não sabia. As cicatrizes me levaram a buscar a Beleza para, de certa forma, chegar ao amor. E o amor veio, enfim. Mas o amor não veio porque eu ESTAVA bonita, mas sim porque ME TORNEI bonita, consciente dos meus valores e feliz com minha aparência, apesar das cicatrizes.
Mas o amor primeiro, aquele que ninguém tira de nós, é o amor que temos por nós mesmos, por Deus e pela compreensão mais ampla da vida e do universo. Nos conhecermos profundamente, nos entendermos e nos respeitarmos. O amor de compreendermos nossos limites e reconhecermos as nossas potencialidades. O amor que nos torna livres para sermos quem realmente somos e quem desejamos ser. A verdadeira Beleza está dentro de nós, e se alimenta do amor universal que está no todo e ao mesmo tempo na parte, está na natureza e nas coisas criadas pelo homem e viverá sempre anônima, eterna e infinitamente sob o nome de “Deus”.